-Alicia, venha almoçar. – Minha madrasta gritou da cozinha
no andar de baixo.
Hoje é um grande dia.
Sem muita demora desci as escadas que eram feitas de madeira
de marfim, combinando com o piso da sala de estar.
-Venha se sentar, seu voo será às 14 horas – Disse novamente
minha madrasta, colocando uma jarra de suco de laranja sobre a mesa.
-Eu sei madrinha – gostava de chama-la assim – Minhas malas
já estão prontas, não vou me atrasar.
-Espero que tudo de certo – Disse se sentando a mesa,
sorrindo para mim.
-Vai dar, vai dar certo – Respondi cabisbaixa.
Minha madrasta não era má como nos contos, mas também não era
tão simpática quando ninguém estava por perto, eu sou uma lembrança de que meu
pai teve outro relacionamento, outro amor, outra família, isso á incomoda,
penso eu.
Almocei sem muita pressa, e logo meu pai veio me buscar, ele
me levaria até o aeroporto.
Durante a viagem no carro, a cada esquina que passava me
lembrava das coisas que vivi ali, de certa forma sinto falta daquelas coisas,
mas sei que minha vida será melhor daqui para frente.
-Você sabe que fico muito orgulhoso por você conseguir uma
bolsa em uma universidade tão conhecida, não sabe? – Disse ele um pouco
envergonhado, ele não era o melhor para demonstrar sentimentos.
-Arqueologia sempre foi meu sonho pai, estudei muito para
isso – Respondi um pouco envergonhada também.
-Estou feliz por você filha, sua mãe estaria orgulhosa
também, eu olho para você, e me lembro dela, os mesmo olhos azuis, o mesmo
cabelo loiro, a mesma pele levemente rosada, ela estaria muito feliz por você.
-Eu tenho certeza que ela estaria pai. – Respondi baixo,
ainda tenho dificuldades em relembrar de minha mãe, o fato de meu pai se casar
novamente depois da morte dela me deixava um pouco desconfortável, me fazia
sentir que ele não a amou de verdade, para mim o amor vai além da morte, além
de tudo, acho que ele dura pra sempre, mesmo após a pessoa não estar mais ali.
-Chegamos – Disse novamente meu pai, me despertando de meus
pensamentos.
*
Ao desembarcar do avião, chamei um taxi e fui direto para a
universidade, passei o voo inteiro dormindo, então não estava de fato cansada.
A paisagem de lá era realmente incrível, nunca imaginei que
estaria em Canadá, ainda mais na universidade dos meus sonhos: O Centro
Palentir.
Em questão de minutos já havia chegado a meu destino, os
portões enormes do centro estavam abertos, e um senhor de cabelos avermelhados
estava na porta, entreguei o dinheiro para o taxista e caminhei até ele.
-Você é Alicia Marin, eu imagino – Disse o senhor para mim,
enquanto ajeitava seus óculos e conferia um papel em suas mãos.
-Sim, prazer – Disse estendendo minha mão a ele.
-Prazer senhorita, sou o Senhor Thiel, encarregado da
coordenação e diretoria do Centro Palentir – Disse dando um aperto rápido em
minhas mãos. - Peço que me acompanhe, vou mostrar-lhe a universidade.
Segui Senhor Thiel, o lugar era realmente grande, cheio de
prédios e bibliotecas, havia até um anfiteatro, mas o que mais me chamou
atenção era a existência de um heliponto, que ficava bem ao lado dos
dormitórios, quando perguntei ao senhor Thiel a respeito, ele apenas disse que
era para o uso da diretoria.
Ao final de minha pequena excursão, ele me levou ao centro
de pesquisa, lá é onde as escavações são feitas, era realmente um deserto enorme,
estudei muito sobre ele, se chamava deserto de Carcross.
-Fique a
vontade para explorar, mas apenas 5 minutos, ok? – Thiel disse retirando uma
garrafa de água de sua bolsa, apesar de estar quase escurecendo, o clima estava
quente.
Sem perder tempo, sai andando ao redor, explorando todos os
lugares que podia, até que ao longe vi uma luz azul, que parecia estar
refletindo o sol, ao me aproximar, consegui identificar melhor, era um anel,
ele era brilhante e tinha uma pedra azul bem lapidada.
-Alicia, venha, temos que retornar ao centro – Thiel chamou
ao longe.
Peguei o anel e coloquei em meu dedo anelar, senti um
pequeno choque ao coloca-lo, e por um momento pensei ter visto um gato ao
longe.
-Eu devo estar ficando louca – Sussurrei para mim mesma.
-Alicia? – Gritou novamente o coordenador.
-Estou indo senhor – respondi enquanto andava em direção à
tenda onde se localizava o senhor Thiel.
-Demorou um pouco hein? – me disse um pouco sério – Mas tudo
bem, imagino que deve ser muito excitante estar em um lugar como esse.
-Ah, sim, me desculpe pelo atraso, ah, senhor Thiel eu achei
um...
-Por favor, sem mais atrasos, já é hora do toque de
recolher, vamos voltar – Disse andando a minha frente.
Sem muita demora cheguei novamente ao centro, Agradeci ao
senhor Thiel pelo “Passeio” e fui em direção ao prédio dos dormitórios, mas no
caminho até lá, notei que um helicóptero preenchia a vaga do heliponto, e
discretamente me aproximei de lá.
Um garoto loiro, vestido de um formal terno, e com calças
sociais andava em direção ao helicóptero, ele aparentava ter a mesma idade que
eu.
-Procurando algo, garota? – O Garoto disse, ainda caminhando
em direção ao veículo.
-Ele está de costas, como notou minha presença? –Indaguei
para mim mesma.
-Já passou do horário de estar na cama, sabia? –Disse em um
tom irônico, finalmente se virando para trás, sua pele era clara, e seus olhos
azuis brilhavam á luz da lua.
-M-Me desculpe senhor – Respondi envergonhada, para estar
usando o heliponto, ele deve ser alguém importante, pensei.
-Senhor? –Disse, agora andando em minha direção. – Não me
faça rir – Disse gargalhando.
-Ah, me desculpe, eu achei que, bem, o modo como está
vestido, tão formal – Eu mal conseguia falar.
-Está insinuando que me visto como um velho? –Disse
arqueando suas sobrancelhas, a este ponto, nós já estávamos frente a frente.
-Não, não, em momento algum – Eu podia sentir minhas
bochechas queimarem.
-Não se preocupe com isto agora – Disse novamente rindo de
uma forma irônica – Teremos tempo para conversar mais tarde.
-Olha, eu não quis causar uma má impressão, eu cheguei hoje,
e bem, não conheço ninguém aqui.
-Bem, agora você conhece – Ele sorriu novamente, e então
estendeu sua mão direita – Prazer, sou James Palentir.
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